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Atualizado: 1 de out. de 2024

Tradução Idalina Lopes


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Por Jean-Luc Maxence


A Sombra… Esse conceito que designa a face sombria e oculta da personalidade, a parte inferior, a qual envolve, de certa forma, em seu manto inquietante e obscuro a totalidade de todos os materiais psíquicos do reino do inconsciente, está presente, de maneira aberta ou em filigrana, em toda a obra de Jung.


A Sombra é o inconsciente que trabalha em cada um de nós, o inconsciente pessoal, certo, mas também o inconsciente coletivo. E é realmente isso, esse mundo quase ignorado que pode emergir de maneira inesperada e às vezes inquietante em uma reunião maçônica na Loja.


Com ou sem egrégora.

  1. G. Jung escreve nitidamente: “Os conteúdos do inconsciente pessoal são aquisições da vida individual, enquanto aqueles do inconsciente coletivo são arquétipos que têm uma existência permanente e a priori”. Assim, a Sombra é um “problema moral”. Ela coloca em jogo a globalidade da personalidade do Eu. “Ninguém pode perceber a Sombra sem um emprego considerável de firmeza moral”, acrescenta o Mestre.


Eis realmente o ato “que consiste em reconhecer a existência real dos aspectos obscuros da personalidade”, o ato que permanece “o fundamento indispensável de todo modo de conhecimento de si, e, consequentemente, confronta-se, via de regra, a uma resistência considerável”.


Tanto na Psicoterapia como na Loja Maçônica, quando os “Irmãos” “trabalham” aceitando a dialética do Eu e do inconsciente, trata-se realmente de concretizar uma das mais célebres máximas inscritas no frontão do Templo de Delfos, a saber, gnôthi sauton, isto é, “conhece-te a ti mesmo”. Esse “trabalho” pode levar, com a ajuda de Sócrates ou não, longos anos, exigentes e apaixonantes como toda exploração de si mesmo e de suas relações com o outro e o Outro.


Consequentemente, Charles Baudouin (1893-1963), antigo diretor do Instituto de Psicoterapia de Gênova, tem razão ao ressaltar que a expressão “sombra”, com ou sem maiúscula, não é somente uma espécie de linguagem figurada,porém, muito mais do que isso: ela designa “uma dessas personificações espontâneas cujo segredo o mundo onírico tem”.


Com efeito, o alter ego ou o duplo muitas vezes encontra seu estranho lugar na Literatura. Um dos exemplos mais marcantes é provavelmente esse magnífico poema de Alfred Musset, La nuit de décembre, que retoma, como uma espécie de leitmotiv obsedante, o símbolo desse “estranho vestido de negro / Que se assemelha a mim como um irmão”… Esse conviva vem misteriosamente se colocar ao lado do homem ao longo de seu processo de crescimento…


Quando Musset é aluno, seu duplo é uma pobre criança “vestida de negro”, ele se torna “um jovem rapaz” quando o poeta completa seus 15 anos, depois, “estranho” “na idade em que se crê no amor”, depois, “conviva” “na idade em que se é libertino”, depois, “órfão” à noite… “Anjo ou demônio”, quem é no fundo “essa sombra amiga”? Não é ela realmente “a face humana e suas mentiras?”.


Quem é, portanto, essa sombra do romântico Musset que lhe sorri sem compartilhar sua alegria e o lamenta sem consolá-lo? “Seria um sonho vão? Seria minha própria imagem / que percebo nesse espelho?” e um pouco mais adiante: “Quem é, portanto, tu, espectro de minha juventude / Peregrino que nada cansou?”, pergunta o poeta. De fato, Musset, mais visionário do que parece, evoca a Sombra de Jung antes do nascimento deste último! E a Sombra muitas vezes toma o aspecto de um personagem velado, obscuro, da cor do cinza, do vago, do indistinto. Pode ser stricto sensu a sombra que a silhueta do homem forma sob o Sol. Mas, na realidade, raramente é tão simples. A Sombra é mais do que um visitante solitário. É uma onipresença plena de ambiguidade e nem sempre reconhecida, ou declarada. E a confrontação com a sombra, em Psicanálise, é um difícil e às vezes trágico duelo entre o analisado e o lado sombrio de si mesmo.


Mas a sombra não é realmente o mal, quando se acredita, por exemplo, em Charles Baudouin, grande admirador, leitor e comentarista de Jung, é muito mais o recalcado. Sim, a sombra pode apresentar uma variante positiva e uma outra negativa. Aliás, Jung a estigmatiza quando escreve: “Se as tendências recalcadas da sombra só fossem más, não existiria nenhum problema.


Ora, a sombra é, em regra geral, somente alguma coisa inferior, primitiva, inadaptada e infeliz, mas não absolutamente má. Ela contém mesmo algumas qualidades infantis ou primitivas que poderiam em certa medida reavivar e embelezar a existência humana”.28 Com efeito, a Sombra é o duplo e este, em muitas das culturas antigas, está presente em inúmeras representações de animais e todos têm, justamente, uma dupla polaridade simbólica, benéfica e maléfica. Assim, o leão simboliza ao mesmo tempo a força, real, positiva em si, e com um apetite voraz que pode ser destruidor e devastador. Seriam necessárias também páginas e páginas para apreender o “duplo jogo” das representações da serpente, do dragão, do urso, entre outros! O mito é bem universal e designa sob todas as latitudes dois irmãos gêmeos interiores, indissociáveis, formando um todo sob pena de se desagregar até a loucura. Assim, a Sombra é naturalmente o que se opõe à luz, mas ela deve ser também compreendida como o reflexo, o jogo de sombras fugidio das coisas humanas efêmeras, irreais e em permanente transformação. Podemos pensar então na alegoria da caverna evocada, evidentemente, por Platão, quando os seres humanos são concebidos de modo filosófico, como se evoluíssem em uma caverna de penumbra e de silhuetas projetadas nas paredes, mas também na imagem do salmo 17 (“à sombra das asas de Deus”) que será a divisa do pai espiritual dos rosa-cruzes, Johann Valentin Andrea (1586- 1654), isto é, sub umbra alarum tuarum Jehova.


Podemos também evocar, se se é católico, a Anunciação feita a Maria quando o anjo responde à Santa Virgem: “A potência do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (São Lucas, 1:35).


Jean-Chevalier e Alain Gheerbrant nos relembram que, na África, entre os inúmeros povos, a sombra é frequentemente compreendida como a segunda natureza dos seres e das coisas e se encontra, em geral, ligada à morte. Em um grande número de línguas indígenas da América do Sul, a mesma palavra significa sombra, alma, imagem. Além do mais, entre os índios do norte do Canadá, por ocasião da passagem da morte, “a sombra e a alma, distintas uma da outra, separam-se do cadáver”.


Mais amplamente, na simbólica tradicional, o homem que vendeu sua alma ao Diabo (“àquele que separa”) perde sua sombra, aquele que não sabe mais ver sua sombra está destinado à destruição, bem como aquele que passa por cima! Em outros termos, ele confunde a presa com a sombra e não sabe mais em qual sombra confiar…, mas tudo é sempre ambivalente, mesmo a sombra de acordo com inúmeras tradições. E parece que, na China, se distanciar de sua sombra significa que, a partir disso, se está transparente a toda luz (o que é um mérito supremo), e, para alguns gnósticos, que a alma humana não tem mais a sombra de uma sombra quando se realizou totalmente sob o poder da luz sobrenatural! Em resumo, sempre se trata de analisar a sombra, sem ocultá-la, para dali extrair uma certa compreensão esclarecedora.

Pode-se então adivinhar, e a observação supera em muito um simples desejo comparativo, tanto na psicologia das profundezas quanto na Loja, quando o Aprendiz quer talhar sua própria pedra bruta para talvez torná-la, um dia, cúbica, e, portanto, passível de melhor se ajustar, de se apoiar, no Templo da humanidade inteira, devolver a Sombra à nossa consciência torna-se o objetivo tanto da análise quanto do trabalho maçônico. A relação entre a dimensão simbólica e a análise especulativa é decididamente sempre viva e primordial. O símbolo, evidentemente, “revela”, de maneira pedagógica, didática, melhor do que qualquer outra representação passível de sugerir e de mostrar. Todo símbolo é dinâmico e permite passar de um sentido a um outro sentido, sob o impulso de uma espécie de ricochete do raciocínio e da imaginação. A postura iniciática maçônica e a psicologia das profundezas travam um mesmo combate e ambas raciocinam por analogia. Por meio principalmente de sua anamnese familiar, C. G. Jung sabe disso melhor do que ninguém. Toda a sua obra consiste em sua ampla expressão. Em suma, a superação da sombra às vezes complacente da Maçonaria. Fazer “como se” a sombra não existisse, ou ainda desprezar o fenômeno, o que significa tentar suprimi-la, recalcá-la, ou acreditar que sua própria identidade e a sombra são um só, significa sempre arriscar “perigosas dissociações”. Em cada um de nós, sempre existe um reino melancólico e neurótico, sem dúvida, mas também uma outra fortaleza bem protegida atrás dos muros de onde a esquizofrenia nos observa…


Para o maçom, evoluir ao trabalhar com as ferramentas simbólicas, ao passar progressivamente do esquadro ao compasso, sem esquecer a régua, o prumo, o nível e às vezes até mesmo o machado que fende e a maça que estimula ou esmaga, sempre significa conciliar-se consigo mesmo, reunir-se, decantar sua pessoa verdadeira para melhor engajar sua eclosão, de acordo com um método de progressão particular. Trata-se de se revelar para melhor se identificar com medida e discernimento. Alguns textos falam até mesmo de “trabalhar sobre si mesmo para estar na medida para se incorporar ao edifício comum”.


Consequentemente, como na análise, na poltrona, face a face, ou deitado em um divã, em conversa, “como a sombra está próxima do mundo dos instintos, levá-la em consideração contínua é indispensável” (sic). Não se pode temporizar ou tergiversar. Se a cura da alma existe, é frequentemente pela aceitação e pela apreensão inteligentes da Sombra que a libertação se dá. E, aliás, em La guérison psychologique que Jung explica: a “Sombra personifica tudo aquilo que o sujeito se recusa a reconhecer ou admitir e que, no entanto, se impõe sempre a ele, direta ou indiretamente como, por exemplo, os traços do caráter inferiores ou outras tendências incompatíveis”.


Aliás, com um humor que revela e faz sentido, C. G. Jung evoca “a cauda do sáurio” da qual o homem não consegue se livrar para se tornar um ser realmente civilizado! Em Aion, ele exprime sem ambiguidade: “A sombra é essa personalidade, oculta, recalcada, com muita frequência inferior e carregada de culpa, cujas ramificações mais extremas remontam até o reino de nossos ancestrais animais e engloba assim todo o aspecto histórico do inconsciente…”.


Assim, a confrontação com a Sombra, às vezes frontal, é muitas vezes gradual e digna de uma peregrinação iniciática sem fim. Ela permanece o ponto comum forte, denso, incontornável, o Centro essencial do círculo de busca comum em que gira o compasso simbólico do analisado segundo Jung e do maçom especulativo. Nesse território pouco conhecido, pode-se encontrar também, sem dúvida, o alquimista em busca de quintessência ou o gnóstico reencontrado que sonha com o conhecimento absoluto. Os arqueólogos da alma estariam todos, mais ou menos, em diálogo imaginário constante com a sombra? Temos o direito de pensá-lo. E o caminho de Jung e suas marcas sobre essa terra de inocência e de culpabilidade nos instigam.


Alguns dias antes de sua morte terrestre – no plano espiritual, o “cadáver” se mexe mais do que nunca! -, o demasiado velho e Venerável “Sábio” Jung (ele morreu em 6 de junho de 1961, aos 86 anos!) tinha sobre sua mesa de leitura as obras do filósofo e poeta Teilhard de Chardin e parecia entusiasmado pelas ideias mãe do autor do Phénomène humain (1955). Assim, poder-se-ia pensar que, antes de entregar sua alma à Sombra, Jung pensou nesse enigmático “ponto ômega” de Teilhard para o qual converge a humanidade em movimento e em busca de Verdade?

Maxence, Jean-luc, in JUNG é a Aurora da Maçonaria O Pensamento Junguiano na Ordem Maçônica, Madras 2004. Texto Original: https://bibliot3ca.com/a-sombra-junguiana-e-a-loja-maconica/


 
 
 

Atualizado: 1 de out. de 2024


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Há 30 anos frequento o rito moderno. Sei que muitos iir.’. não compartilham de idéias dogmáticas. Nem eu! Mas as vezes me permito divagar em idéias porquê acredito não só no que vejo, mas também no que sinto.

Assim é que nesse longo período da minha vida maçônica, às terças-feiras, participo da repetição do ritual do rito moderno, que para mim, soa como o badalo do sino que me chama para a liturgia da missa.

Sei que a intenção da filosofia do rito é apontar a cada instante a necessidade de me reconstruir em condutas; como deve ser a rotina de um livre pensador.

O ritual me mostra, pela repetição, (que também é dogmática) que toda atividade em vida, há falta de atenção, observação, e prática, pode atrapalhar a compreensão e a hora da resposta nos momentos da palavra justa e perfeita, em vida; (a exemplo da palavra que passa e não volta; a não ser após nova circulação nas colunas da sabedoria; (J & B); por consequência, a filosofia ritualística me convence, que minhas falhas de atenção, influenciam meu grau evolutivo.

Assim também é quando mudo de ambiente; de perspectiva; de lado das colunas; ou na Câmara do meio ou como M.’. I.’.; ou ainda, no Grupo de Whatsapp; se eu não perceber a mudança e como me sinto quando estou em outro ambiente (que de tão igual soa como se o novo igual fosse diferente), eu, como maçom, e como pessoa, nada seria...

Sem respeitar os graus e as individualidades o maçom não avança em liberdade, igualdade e fraternidade...

É necessário compreender a pureza do rito e da vida para conviver bem no espaço e no tempo.

Praticar a marcha do grau, sem compreender o sentido dos passos, é como não enxergar as luzes flamejantes existente na Loja; é como observar, em um dia qualquer, a oficina vazia...

Porem, como pessoa e como maçom, agora não, a egrégora das luzes me é reveladora...

Passo a compreender desde os passos perdidos, que ao adentrar ritualisticamente ao templo, devo reverenciar o V.’. M.’.; as luzes e os meus iir.’.; já que estou diante da abóboda de um universo em movimento.

E como se eu também fosse uma pequena partícula, (uma Estrela flamejante), posso então enxergar o brilho flamejante em cada um dos iir.’.

Penso que ainda e só por um milésimo de segundo; se persistimos na evolução dos graus; a perseverança de desígnios leva-nos a enxergar o espargir, matiz e cores, advindas da intuição e da sabedoria da alma de cada um de nós...

Parece que ainda não podemos compreender a beleza e o poder dos ritos iniciáticos. Doutrinários e ou Evolucionistas...

Parece que enquanto andarmos distraídos sobre o significado de Oficina - “como Alma”; teremos ainda um longo caminho para a prática de uma oficina justa e perfeita...


Feliz dia do Maçom a todos os meus iir.’.

Lineu Mattos

M.’. I.’.

20/08/2022

 
 
 


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No dia 25/06/2022 o Supremo Conselho do Rito Moderno conforme Ato N° 102- 2019/ 2024 -23/06/2022 de INICIAÇÃO, EQUIVALÊNCIA E RECONHECIMENTO DO 9º GRAU - CAVALEIRO DA SAPIÊNCIA, assinado pelo Soberano Grande Inspetor Geral do Rito Moderno, Pasquale Mignella Filho, resolveu nos

termos do Estatuto do Supremo Conselho do Rito Moderno, que: Com a finalidade de fortalecer o Rito Moderno na Cidade de São Paulo, reconhecer, dar equivalência e iniciação do Grau 9º - Cavaleiro da Sapiência, aos llr.'. abaixo relacionados;

- André Nagy

- Alex Faria Pereira

- Attilio Chiavegato

- Carlos Antonio Rafael de Mesquita

- Denis Salvatore Curcuruto da Silva

- Dennis Mauro

- Edson Carlos Miranda Monteiro

- Hamilton César da Cunha

- Fabio Henrique Amorim

- José Jatobá Auricchio

- Juliano Corsino Sargentini

- Klaus Augusto Tofoli

- Lineu Carlos Cunha Mattos

- Leandro Marcei Lancieri

- Mareio Ferreira da Silva

- Mauro Sérgio Sguerra Paganotti

- Niljanil Bueno Brasil

- Pedro Bragião Junior

- Sérgio Franco da Silveira Filho

- Wilson de Jesus Andrade de Freitas

- Wilson Roberto Alves


Assim sendo, o Sublime Capítulo Regional do Rito Moderno para o ABC - Cavaleiro Rosa Cruz nº 41, felicita e saúda a todos os Cavaleiros da Sapiência, em especial aos IIr.'. atuantes em nossas colunas, conclamando assim o apoio, manutenção e disseminação do Rito Moderno no Estado de São Paulo e demais Estados do Pais.




 
 
 

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